sábado, 5 de marzo de 2011

ALVORADA

Depois da dilatada ausência de qualquer tipo de actividade neste blogue (já quase parecia morto) semelha este o momento (agora e hoje) propício de dizer algo: descrever-vos o que olhei o primeiro dia deste ano nas janelas da minha casa, coas primeiras luzes do dia. Esquecê-lo foi o destino que lhe tentei impor a tal experiência, mas sobreviver até hoje numha cabeça desatenta dela bem lhe valeu o indulto.
Fijo-se o normal, o comum a umha boa parte da nossa espécie, erguer-se do leito resignadamente defronte do mundo que já é conhecido e do suicídio colectivo ao que por toda a parte se condena (a si próprio) o ser humano, e mesmo cos dias que morrem parece que se volta celebrar o juízo e se agrava mais e mais a pena sentenciada, erguer-se do leito coa sensaçom de que cheira a jazigo e a cova. Erguer-se em certo modo por osmose, co impulso dumha pressom pruínte na pitutária mais que por qualquer vontade própria ou alheia. Subir lá as escadas ao andar superior, ao rés-do-cham acordando ainda o olfacto, o olhar, o ouvido e o sentido... que ainda hoje segue a acordar; nem se fai parada para almorçar, leva-se ainda caminho pola osmose que prui na pituitária e chega-se por simples mecánica do processo iniciado no andar inferior às janelas que olham para o mar até ter fim aquele incómodo nasal. E lá olhei, e vim.
As janelas que se diz (cabe explicá-lo, com licença, doutra maneira nom se vai perceber) tenhem pola frente o mar da ria de Vigo, e para além da água a península do Morraço que se estende em direcçom ao noroeste... e por lá andavam a flamejar os clarons do fogo do amanhecer, do disco do sol. Sobressalto é (de facto foi) a reacçom própria, como para qualquer um, dirigir os sentidos às agulhas do relógio de pulso e de facto ser a primeira hora de luz da jornada (jornada sim, pois é símbolo memorável do que está a nascer poucos meses depois mesmo POR TODA A PARTE), mas nom fijo sentido quando ainda nom era hoje. É preciso dar outra direcçom aos olhos, para o oeste, e flameja também coruscante como se chegara o Fim dos Tempos; de certo causa impressom a quem nunca assistiu a espectáculo semelhante. É entom necessásio seguir a circularidade da Terra agora em sentido oposto até o norte, nordeste norte, nordeste este e seguir até compreender que nom se invertira o curso dos astros, nem de longe, o assunto era muito mais simples do que puidera parecer: amanhecia como sempre amanhecera, mas amanhecia POR TODA A PARTE, a linha do horizonte, ferida de morte, sangrava fogo por mil chagas e lá onde a carne do céu nom se tingira de vermelho as nuvens pareciam suportar o peso dum fruto que pendura do galho à espera de cair, mas nom era morte infecunda, ventava-se nascimento no som rouco e experto da órbita do orbe que gira morno no Universo frio e silente, umha melodia de trunfo futuro e inevitável, apenas postergável. A abóbada superior mantivo-se neste transe inexpressiva, gris e nevulosa, mole e néscia e nom puido, contodo, ficar indiferente. Quantas perguntas se puideram fazer naquela hora! Quais seram as espadas que poidam matar o que nasce por toda a parte? Quê mentiras podem ocultar o que todos sabemos, sentimos, ventamos, sofrimos? Até quando estará disposto o ser humano a dormir antes de chegar a acordar de vez, até quando consentir o inconsentível? O céu já nom respondeu, o sol já estava alto demais no leste; mas se calhar responde hoje, ainda que a voz nom é ainda fácil de diferenciar no meio de todo o ruído que nos envolve, ou leva a falar-nos a muitos séculos voz-das-cousas-que-som, mas hoje, sem dúvida, berra, e berra mais cos dias que nascem depois de mortos os que os antecedêrom. Sim isso parece, nom é? nom ouvides? o berro aquele é a resposta a umha pergunta simples: "ATÉ QUANDO?"

3 comentarios:

  1. Ainda que foi longa a espera por ver umha actualizaçom no blogue pagou a pena a espera. Nom se pode constringir o que é insconstringível, aguardemos de aqui para a frente maior regularidade nesta bitácora.

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  2. Bambino, só umha coussa... É excepcional, pero excepcional excepcional. Acavo de ficar abraido com este post.

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  3. Obrigado polos vossos comentários; se vos parece, por petiçom do Jorge, vou seguir com a antiliteratura no próximo post

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