martes, 15 de marzo de 2011

continuaçom

Hoje, por petiçom do 50% dos meus leitores confirmados, farei o possível por exprimir mais claramente o quê é para mim a literatura à que tam legítimo é opor-se, mas antes de começar quero recomendar a qualquer um que leia isto dous documentários que ilustram o panorama literário no que vivemos todos (opiniom pessoal) imersos: "The Century Of The Self" e "The pervert´s guide to cinema", estando ambos os dous legendados em português pola internet adiante e tratando respectivamente um sobre a aplicaçom das teorias de Freud a respeito do subconsciente à propaganda desde a década de 30 para a frente e o outro sobre a simbologia freudiana que há por toda a parte no cinema.
Tomando estas referências como ponto de partida afirmo que é ao meu entender muito provável que levemos a viver toda a nossa vida e muitas outras antes do que a nossa num entorno cultural absolutamente carregado de símbolos, símbolos que querem parecer minimamente lógicos mas que tenhem como fim intoxicar a própria capacidade lógica do ser humano. Repeto mais umha vez: nom digo que toda a literatura seja malevolente, mas há algumha nalgumha das suas partes que pode debuxar por cima nossa cadeias invisíveis, mas pesadas. Desta situaçom nom é Freud responsável único, pois já muitos séculos antes do seu nascimento existiam mitos e narraçons que sabiam manipular o sentido humano.
Tentarei pôr um exemplo: o quê é que ensina o conto da Cinderela nas suas diferentes versons? Em muitas culturas há versons desta narraçom, mesmo na China, onde se documenta cerca do 860 a.C. e por isso se tem dito muitas vezes que representa um arquétipo fundamental comum a todas aquelas culturas. O fondo comum nom é como alguns dizem a superaçom humana, mas a recompensa metafísica da abnegaçom feminina; sempre tem bom fim a estória (e também história por muitas vezes) na que a boa e mansa garota acaba salva (que coincidência, umha figura masculina!) pola presença do príncipe com quem vive toda a sua vida na maior das felicidades que se poida descrever. Porquê tem de ter bom fim umha vida de abnegaçom perante a maior das injustiças? Porquê este fim lene e laxo se parece tanto a umha morte poética edulcorada até o ponto produzir diabetes? Os amigos da floresta, os animais, som em culturas como a galega símbolo dos espíritos dos mortos (reminiscências da metempsicose) e tais viagens impossíveis som périplos em tantas outras ocasions que se dirigem para o Além ; entom o conto nom mente, promete a morte mas disfarçada de futuro próspero. Quantas pessoas pensades que vivêrom na mais absoluta das desgraças aguardando a ser salvas pola sua própria abnegaçom coa vinda dum príncipe? Cá puidera dizer-se que o conto opera como um agente destrutor da capacidade lógica do ouvinte/leitor e a própria literatura chega a fazer autêntica apologia do suicídio por inacçom... quem sabendo isto quer transmitir semelhante cultura aos seus filhos? Ou nom se sabe ou a narrativa interiorizada bloqueia a capacidade lógica dos indivíduos, é aí onde devera operar a antiliteratura para permitir-nos avançar. Também val isto: porquê entre os rapazes há umha marcada tendência a avaliar por partes o seu objecto de desejo (peitos, peida, rosto e demais "talhadas")? vá ao cinema e pergunta também porquê o objecto de desejo do protagonista masculino (personagem redonda) é tam simples (personagem plana), nom se pretende que o homem aspire a um ser metafísico e abstracto para nom deixar de desprezar em nengum momento a "mulher carnal" (física) apesar de tê-la por companheira? A mulher e o homem que querem fazer da sua vida um romance, umha novela ou um filme de qualquer classe... nom depreciam a sua existência dalgum modo? Nom se submetem a umha escravidom voluntária para ter por amos símbolos e palavras mal-intencionadas? Isto é o que tenho diante dos olhos, e nom sei como ficar impassível nem como agir, vós sabedes?

jueves, 10 de marzo de 2011

antiliteratura

Qual achades vós (ó leitores reais ou imaginários!) que é o pior inimigo da criaçom mais ou menos artística? Na minha opiniom nom há pior adversário que a tela em branco, o espaço vácuo de ideias, de formas e de qualquer vestígio de irregularidade bem cromática, bem geométrica... o grande problema que alguns pintores encaram perante a tela é que já é acabada antes de deitar nengumha pintura na sua superfície; antes de iniciá-la, a obra já está rematada.
Outro grande incómodo do "artista pobre" da era industrial foi (é), se calhar, a vantagem ilusória de imitar o modelo da arte das elites (quem o fijo) que condenou os modos de criaçom das classes baixas ao esquecimento; qualquer um quixo ser nalgum momento UM grande visionário, e quando quixo agir em coerência com isto abandonava-o sem poder pôr-lhe remédio a sua musa. O quê se passou? Nem todos nem a maioria dos cidadans (nem as musas respectivas) tenhem porquê estar em disposiçom de considerar obras nas que algum dia participárom de autoria única, mas isto é absolutamente impensável no mundo no que hoje vivemos, é de idiotas nom reconhecer-se o mérito devidamente alcançado... e temos de fazer que nom entendemos a postura contrária, pois "é de idiotas". Se ainda alguém duvida que a autoria compartida poida ser possível, que repare no mundo que tem pola frente e numere as obras da mam e o engenho humano na que somente interveu umnha só pessoa, e ainda entom... as matérias primas, as ideias impulsoras donde saírom?. Por isso nom é exagero dizer que na arte vemos comunidade por toda a parte, ignorada e mesmo maltratada por tantos, mas aí está, à vista de todos.
Atrancadas neste beco sem saída, as artes venhem agromando muito tempo apesar das condiçons pouco favoráveis que se encontram em qualquer um dos seus "périplos generativos"(e quantas ficam sem citar! mas um texto escrito tem de mentir em parte para poder exprimir umha porçom da realidade... o texto oral pode e quase deve, bom, sempre ao meu parecer, desmentir as falácias que vai criando com apoio na linguagem gestual e outros recursos semelhantes). Antes de mais nada, deveria dizer-se que qualquer criaçom artística que siga o cánone occidental contemporáneo operativo a este efecto nasce quase sempre por periplogénese (périplo ficcional, como o de Odisseu)... o parto é doroso na nossa espécie mas é formoso, apesar da presença de sangue e demais elementos tabu na nossa cultura, e é mesmo umha verdade que nom oculta dúvidas ("sim, meu filho: assim é que todos nós estamos cá e vemos o sol navegar todos os dias através do céu, daí é que todos vimos"). O "parto atístico" é umha farsa, umha mentira que quer chegar a ser algum dia verdade, mas nunca conseguiu, apesar do que alguns doidos digam, pois pretende ser realidade convertindo a pessoa que existe, vive e alenta numha ficçom completa: se nós nom somos ficçom nom nos pode suplantar a arte parasitária e fazer-se realidade.
O engendramento artístico hodierno reproduz os piares vitais da filosofia económica vigente hoje: partindo de nada, do branco da tela, algo chega a ser e recebe o alento dum único procreador... nom é isto apenas mitologia bíblica, mas a base do nosso sistema produtivo, desatendido da verdadeira origem da "produçom": o trabalho colectivo e as condiçons prévias favoráveis do etorno físico (natural) para a actividade (e portanto existência) humana.
Por todo isto e muitas outras causas que se exprimiriam muito melhor coa voz do que com letras (sobretodo com maior ordem e coerência), acho que é preciso matar a arte; a arte que padecemos, nom qualquer umha que poida vir no futuro. A arte demoníaca que nos pretende suplantar por inumeráveis meios, sendo um dos mais potentes sem dúvida a literatura. Quando nos perguntamos quê caminho lhe vamos dar à nossa vida, muitos desgraçados acudimos ao cinema ou aos livros como referentes preferentes sem julgá-los criticamente, tantos e tantos somos dóceis aos ditados de semelhantes parasitos intelectuais que nom querem senom viver através de nós no lugar de servir-nos como modo de expressom e reflexom. E como cá nom fago senom escrever defendo desde hoje, de dito e de feito (ou isso espero), como instrumento homicida e emancipador a antiliteratura.

sábado, 5 de marzo de 2011

ALVORADA

Depois da dilatada ausência de qualquer tipo de actividade neste blogue (já quase parecia morto) semelha este o momento (agora e hoje) propício de dizer algo: descrever-vos o que olhei o primeiro dia deste ano nas janelas da minha casa, coas primeiras luzes do dia. Esquecê-lo foi o destino que lhe tentei impor a tal experiência, mas sobreviver até hoje numha cabeça desatenta dela bem lhe valeu o indulto.
Fijo-se o normal, o comum a umha boa parte da nossa espécie, erguer-se do leito resignadamente defronte do mundo que já é conhecido e do suicídio colectivo ao que por toda a parte se condena (a si próprio) o ser humano, e mesmo cos dias que morrem parece que se volta celebrar o juízo e se agrava mais e mais a pena sentenciada, erguer-se do leito coa sensaçom de que cheira a jazigo e a cova. Erguer-se em certo modo por osmose, co impulso dumha pressom pruínte na pitutária mais que por qualquer vontade própria ou alheia. Subir lá as escadas ao andar superior, ao rés-do-cham acordando ainda o olfacto, o olhar, o ouvido e o sentido... que ainda hoje segue a acordar; nem se fai parada para almorçar, leva-se ainda caminho pola osmose que prui na pituitária e chega-se por simples mecánica do processo iniciado no andar inferior às janelas que olham para o mar até ter fim aquele incómodo nasal. E lá olhei, e vim.
As janelas que se diz (cabe explicá-lo, com licença, doutra maneira nom se vai perceber) tenhem pola frente o mar da ria de Vigo, e para além da água a península do Morraço que se estende em direcçom ao noroeste... e por lá andavam a flamejar os clarons do fogo do amanhecer, do disco do sol. Sobressalto é (de facto foi) a reacçom própria, como para qualquer um, dirigir os sentidos às agulhas do relógio de pulso e de facto ser a primeira hora de luz da jornada (jornada sim, pois é símbolo memorável do que está a nascer poucos meses depois mesmo POR TODA A PARTE), mas nom fijo sentido quando ainda nom era hoje. É preciso dar outra direcçom aos olhos, para o oeste, e flameja também coruscante como se chegara o Fim dos Tempos; de certo causa impressom a quem nunca assistiu a espectáculo semelhante. É entom necessásio seguir a circularidade da Terra agora em sentido oposto até o norte, nordeste norte, nordeste este e seguir até compreender que nom se invertira o curso dos astros, nem de longe, o assunto era muito mais simples do que puidera parecer: amanhecia como sempre amanhecera, mas amanhecia POR TODA A PARTE, a linha do horizonte, ferida de morte, sangrava fogo por mil chagas e lá onde a carne do céu nom se tingira de vermelho as nuvens pareciam suportar o peso dum fruto que pendura do galho à espera de cair, mas nom era morte infecunda, ventava-se nascimento no som rouco e experto da órbita do orbe que gira morno no Universo frio e silente, umha melodia de trunfo futuro e inevitável, apenas postergável. A abóbada superior mantivo-se neste transe inexpressiva, gris e nevulosa, mole e néscia e nom puido, contodo, ficar indiferente. Quantas perguntas se puideram fazer naquela hora! Quais seram as espadas que poidam matar o que nasce por toda a parte? Quê mentiras podem ocultar o que todos sabemos, sentimos, ventamos, sofrimos? Até quando estará disposto o ser humano a dormir antes de chegar a acordar de vez, até quando consentir o inconsentível? O céu já nom respondeu, o sol já estava alto demais no leste; mas se calhar responde hoje, ainda que a voz nom é ainda fácil de diferenciar no meio de todo o ruído que nos envolve, ou leva a falar-nos a muitos séculos voz-das-cousas-que-som, mas hoje, sem dúvida, berra, e berra mais cos dias que nascem depois de mortos os que os antecedêrom. Sim isso parece, nom é? nom ouvides? o berro aquele é a resposta a umha pergunta simples: "ATÉ QUANDO?"