jueves, 10 de marzo de 2011

antiliteratura

Qual achades vós (ó leitores reais ou imaginários!) que é o pior inimigo da criaçom mais ou menos artística? Na minha opiniom nom há pior adversário que a tela em branco, o espaço vácuo de ideias, de formas e de qualquer vestígio de irregularidade bem cromática, bem geométrica... o grande problema que alguns pintores encaram perante a tela é que já é acabada antes de deitar nengumha pintura na sua superfície; antes de iniciá-la, a obra já está rematada.
Outro grande incómodo do "artista pobre" da era industrial foi (é), se calhar, a vantagem ilusória de imitar o modelo da arte das elites (quem o fijo) que condenou os modos de criaçom das classes baixas ao esquecimento; qualquer um quixo ser nalgum momento UM grande visionário, e quando quixo agir em coerência com isto abandonava-o sem poder pôr-lhe remédio a sua musa. O quê se passou? Nem todos nem a maioria dos cidadans (nem as musas respectivas) tenhem porquê estar em disposiçom de considerar obras nas que algum dia participárom de autoria única, mas isto é absolutamente impensável no mundo no que hoje vivemos, é de idiotas nom reconhecer-se o mérito devidamente alcançado... e temos de fazer que nom entendemos a postura contrária, pois "é de idiotas". Se ainda alguém duvida que a autoria compartida poida ser possível, que repare no mundo que tem pola frente e numere as obras da mam e o engenho humano na que somente interveu umnha só pessoa, e ainda entom... as matérias primas, as ideias impulsoras donde saírom?. Por isso nom é exagero dizer que na arte vemos comunidade por toda a parte, ignorada e mesmo maltratada por tantos, mas aí está, à vista de todos.
Atrancadas neste beco sem saída, as artes venhem agromando muito tempo apesar das condiçons pouco favoráveis que se encontram em qualquer um dos seus "périplos generativos"(e quantas ficam sem citar! mas um texto escrito tem de mentir em parte para poder exprimir umha porçom da realidade... o texto oral pode e quase deve, bom, sempre ao meu parecer, desmentir as falácias que vai criando com apoio na linguagem gestual e outros recursos semelhantes). Antes de mais nada, deveria dizer-se que qualquer criaçom artística que siga o cánone occidental contemporáneo operativo a este efecto nasce quase sempre por periplogénese (périplo ficcional, como o de Odisseu)... o parto é doroso na nossa espécie mas é formoso, apesar da presença de sangue e demais elementos tabu na nossa cultura, e é mesmo umha verdade que nom oculta dúvidas ("sim, meu filho: assim é que todos nós estamos cá e vemos o sol navegar todos os dias através do céu, daí é que todos vimos"). O "parto atístico" é umha farsa, umha mentira que quer chegar a ser algum dia verdade, mas nunca conseguiu, apesar do que alguns doidos digam, pois pretende ser realidade convertindo a pessoa que existe, vive e alenta numha ficçom completa: se nós nom somos ficçom nom nos pode suplantar a arte parasitária e fazer-se realidade.
O engendramento artístico hodierno reproduz os piares vitais da filosofia económica vigente hoje: partindo de nada, do branco da tela, algo chega a ser e recebe o alento dum único procreador... nom é isto apenas mitologia bíblica, mas a base do nosso sistema produtivo, desatendido da verdadeira origem da "produçom": o trabalho colectivo e as condiçons prévias favoráveis do etorno físico (natural) para a actividade (e portanto existência) humana.
Por todo isto e muitas outras causas que se exprimiriam muito melhor coa voz do que com letras (sobretodo com maior ordem e coerência), acho que é preciso matar a arte; a arte que padecemos, nom qualquer umha que poida vir no futuro. A arte demoníaca que nos pretende suplantar por inumeráveis meios, sendo um dos mais potentes sem dúvida a literatura. Quando nos perguntamos quê caminho lhe vamos dar à nossa vida, muitos desgraçados acudimos ao cinema ou aos livros como referentes preferentes sem julgá-los criticamente, tantos e tantos somos dóceis aos ditados de semelhantes parasitos intelectuais que nom querem senom viver através de nós no lugar de servir-nos como modo de expressom e reflexom. E como cá nom fago senom escrever defendo desde hoje, de dito e de feito (ou isso espero), como instrumento homicida e emancipador a antiliteratura.

3 comentarios:

  1. "Es verdad todo eso!"
    Acavas de fazer umha explicaçom clara e completa da postura libertária sobor da arte ou melhor dito da criaçom. A criaçom como algo ailhado é impossível, toda criaçom e polo tanto arte é social e polo tanto esta nom pode ser considerada de propiedade exclusiva dum individuo ou personalidade, posto que nesse parto dolorosso que ti tam bem nos relatas intervem a retroalimentaçom constante. O autor deve ser reconhezido mas o autor deve compreender que é a penas umha parte dessa cadeia histórica ou retroalimentativa que proporciona ao seu humano a súa condiçom comunitária. Gostei do teu lançamento da ideia da antiliteratura :D acho que che gostaria a página de Nicanor Parra, um chileno que creou a "Antipoesía" e que a min personalmente me gostou bastante aínda que penso que Parra sería algo así como o inicio de algo que estaría quiçais por vir. Lembra-me ao vangardismo de Manoel António. Bota-lhe um olho e já me dirás que che pareze:

    http://www.nicanorparra.uchile.cl/

    PD. Gostaria que num futuro post ou mesmo aquí num comentário desenrolaras máis a idea da antiliteratura já que fiquei com curiosidade do que realmente queres exponher e penso que estaria bem unha explicaçom algo máis detalhada.

    Umha aperta irmau!

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  2. quero dizer que me lembra a manoel antónio no senso que ele foi o precursor das vangardas na lingua galega... Nom em que o faga a antipoesía de Parra....

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  3. OK, ermam Jorge. Vou tentar exprimir com maior claridade o que tenho em mente, se che parece bem farei-no numha outra entrada... a ver se me ponho hoje à noite. Obrigado polas tuas palavras para as últimas (e quase primeiras) duas entradas, ainda nom lim com atençom a obra de Parra, mas o que lim pinta mui bem, já falaremos.

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